quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

exaustera

se jogou no mar e nadou até a rebentação. depois do estouro das ondas só havia calma. surpresa boa. emoção masinha. gosto azul na boca. desejou acariciar o horizonte. e boiou nas águas serenas com gratidão. 


não mais cansaço, não mais dureza. 

era só a linha móvel que dividia o mar do resto.  



segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

ela é uma pensadora

pensa no mato sem cachorro, na morte da bezerra, na volta do bumerangue, na força estranha da formiga, na poeira que flutua invisível, na fumaça que sobe às barbas do vento, na circunferência da ervilha, no raio do ovo galado, na tonga da mironga, na desmatéria do ritmo. 

(e acha tudo à fudê).

férias

  • eras
  • marcas
  • regras
  • trevas
  • fugas
  • cócegas
  • entranhas
  • unhas
  • miúdas
  • pontas
  • surdas
  • cegas
  • piegas
  • letras
  • tortas
  • tontas
  • pombas

o cheiro

ainda sente o cheiro do mato molhado. cachorros pedem atenção. ela só pensa no cheiro.  cachorros refestelam-se em vão.

Natal

foi Natal e mais uma vez não comeu panetone. mais uma vez detestou as propagandas natalinas. mais uma vez esqueceu de se emocionar. mais uma vez deixou de tentar ser menina.

comeu a ceia como quem vai à churrascaria - da gula à luxúria, um passinho só (para cima).

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

photoshop I

trabalhar no photoshop é delicioso, mas fatiga, estafa, esgota. o olho não é mais de lince. é olho de toupeira, submerso nas camadas famintas. o olho vira presa (agora ele é a comida). ignora o sabor do matiz, o tempero da saturação e o sal da luminosidade. brilho acaba servindo só para ocultar. tampa-se a panela do molho. por isso é importante parar e fechar os olhos: imagine que és pássaro, mas não olhe para o céu azul - bata o branco nas nuvens.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Leitor Imaginário II

(...)

- Surdo.

- Hã?

- Isto mesmo que você escutou.

- Hã?



[- Sim, isto mesmo que você entendeu. O leitor imaginário é você.]


OU


[sim, isto mesmo que você entendeu. o leitor imaginário é você]

10mbro

Hoje é um daqueles dias de calor úmido. O conhecido bafo.




Agora São Pedro ameaça chutar o Grande Balde. Minha avó já sente reumatismo nos joelhos. 

Se for chover, que seja um toró.

o irmão da sônia braga II

o irmão da sônia braga se chama Benjamin. pelo menos é o nome que ele diz que tem. não dá para se fiar, porque ele é muito criativo. conta estórias estranhas e depois diz que é tudo invenção. quando nos conhecemos, ele falou que era analfabeto. estranhei a correta  concordância dos verbos, mas okay. "tem gente que sabe falar", pensei. passadas duas horas, ele confessou o invento. não invoquei porque gostei. assim posso lhe escrever bilhetes, como fiz hoje. deixei um papelzinho com o seguinte escrito: "floriu", ao lado do travesseiro. e ele, todo faceiro, fotografou o meu jardim. com Benjamin é tudo simples. assim. 

300 cafés antes de acordar (realmente)

ai, que dia mais pesado. faz sol mas não venta. parece que estou dentro de uma estufa à gás. quase sinto o cheiro ardido das moléculas letais invisíveis. minha agenda está lotada. ontem não fiz nada. acumulou. paciência. caramba, detesto esta palavra: paciência. com esse acento circunflexo então, ela fica ainda mais repugnante. repelente. nessa noite não sofri com os mosquitos. acordei disposta. gosto de café forte. pelo menos os quatro primeiros. dizem que café em excesso pode dar gastrite. pior se fosse cirrose. caramba, destesto esta palavra: cirrose. com esses dois "erres" então, ela fica ainda mais repugnante. repelente. eu bebo muito pouco. depois que decidi ser feliz parei de beber álcool. só quero ver até quando vou aguentar tanta felicidade.

Leitor Imaginário

- Por que tu escreves?

- Porque tenho um leitor imaginário.

- Como assim? 

- É o jeito que encontrei de me comunicar.

- Ah, claro. E como ele é?

- Surdo.

so glad! (si joyeux)

Emília está grata e feliz. Conseguiu o que sempre quis. Com o décimo terceiro salário na conta e apenas um clique comprou uma passagem para Paris. Está indo em fevereiro, para fugir do Carnaval.

Não levará sandálias. Não levará apito nem colar havaiano. 
Levará câmera fotográfica e erva de chimarrão para um ano.

Locadora de Sonhos

Entrou na locadora de sonhos e locou aquele que mais aliviaria suas tensões pré-reveillon. Optou pelo gênero "realismo fantástico". Sonhou com bonecos de borracha em tamanho natural, vivos. Tudo em cores pastéis. No ponto em que os bonecos (eram três) começaram a reclamar de sua condição de bonecos, as cores saturaram e o sonho beirou o horror (e logo voltou à fantasia descarada mesmo). Como Alceu havia desfalcado a prateleira do gênero "ação", e dormia ao seu lado sonhando o quinto sonho, ela acordou de súbito com um ponta-pé na batata da perna. Bom que deu tempo: o sonho terminou depois que havia encaixado a cabeça no terceiro boneco e quando já lhe vestia um sobretudo (ou sobrenada) - antes ele estava pelado, no frio e sem cabeça.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

vácuo criativo

é amarela e comprida. tem algumas manchas escuras e uma ponta mais saliente que a outra. é curva, quase um bumerangue. por dentro é bege e macia. tem ranhuras, boas de tirar.



[antes de dormir, naquele instante limítrofe entre o ser e o sonho, me vêm uns textos bacanas. mas durmo e esqueço tudo. acordo descrevendo bananas.]

tapeware

tape où? tape dónde? tape cui? tape حيث ? tape where?



[desajustados que não colaboram]

duas dicas para emagrecer

1. muito dormir;
2. muito sonhar (gênero: ação).

a tradição do tender

temperar. caramelar. levar ao forno envolto no papel alumínio. esperar 2hs. fatiar quando estiver frio. comer sem pensar no bebê peru.

purê de abobrinha

você acordou abobada.  isso é bom mesmo não sendo raro. então vamos ver:


acento circunflexo... que coisa mais demodê.


porém,

se você não sabe o quê escrever, escreva sobre o não saber o quê. assim você enche uma caixa de texto sem perceber. publica um tanto de palavras sem saber por quê. nem tudo o que se lê é para entender. 


enfim,


purê de abobrinha

abobrê com farinha,
abobrê com chuchu,
abobrê com ervilha,
abobrê com ovo cru.

 
(em primeiro lugar, tudo o que você faz é para você em primeiro lugar).

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

sem título [video]

http://www.youtube.com/watch?v=SrEPNqTkNOE&context=C24169ADOEgsToPDskI93_6rZgfNQOJlnVzpBA56

MOVxxxxx primeiro:
1. no fundo tem um movimento lídimo;
2. no fundo tem um movimento ínfimo;
3. no fundo tem um movimento íntimo.

puxa

"Estica, poxa!"

E foi assim que tudo começou.  Prenderam os galhos rente ao gradil. Os bambus cresceram e taparam tudo o que antes se viu. Ela pôde jardinar de camisola. Ela pôde tomar banho de sol sem a parte de cima do biquini. Ela pôde fazer de conta que não vive numa gaiola.  

bodas de ouro

50 anos de casados. meio século de união. 18.250 dias de paceria. coisa rara na era das extinções. portanto, vale tudo para rodopiar airosa no salão. é dia de alinhar os cabelos, maquiar-se sem parcimônia e vestir aquele tubinho preto do século passado. é dia de usar salto alto e de triturar os pés chatos. é dia de baile, bebê.   

desgranidas de plantão

já botei inseticida. já tapei o buraco com massa-corrida. (e já me conformei com a marca no marco da porta). 

mas nada detém a sua cobiça. 

mestres na arquitetura e imbatíveis na porcaria, espalham ração por toda a cozinha. só comem depois de picar o grão: farofa de proteína. 

qualquer dia estarão latindo, essas fomigas.

fim de ano

calor escaldante. mormaço inebriante. atmosfera enfeiante. todo mundo suado. elegância em baixa. alta irritabilidade. pressão oscilante. tonturinha desgraçada. pressa em realizar os atrasados. tostão que não garante. frustração disfraçada. papai noel existe. estacionamentos lotados. carros e mais carros. gentileza esgotada. onde estacionará o trenó? ônibus e mais ônibus. barbeiragens arrastadas. motos e mais motos. imprudências fúnebres. táxis e mais táxis. inabilidade acelerada. é fim de ano. trânsito amalucado. de novo. bosta. pobres renas.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

resfriado x gripe

A diferença entre o resfriado e a gripe é o vírus. A gente só sabe quando é um ou quando é o outro quando há febre ou contágio. Ficamos na ignorância até que o tempo esclareça. Interessante como o tempo é rei até nos pormenores. Enquanto isso elencamos os sinais com a curiosidade morbidamente entorpecida:

sinal 1: nariz saliente;
sinal 2: garganta presente;
sinal 3: corpo ancorado;
sinal 4: relógio atrasado;
sinal 5: reunião perdida.

o filho playboy de kadafi

Saif foi educado da Áustria e na Inglaterra. fala mais de três línguas. é arquiteto de formação e dono de diversos veículos de comunicação. escreveu sobre democracia e foi acusado de plágio. foi capturado em estado de confusão mental enquanto tentava telefonar para o pai, já morto. com os óculos embaçados, jurou lutar até que o último homem caísse. eis que tropeçou numa pedra imaginária e tombou no chão. (ninguém lhe estendeu a mão).

ou mais ou menos isso

me parece que as pessoas preferem ler crônicas. algo que aconteceu de fato. a verdade do narrador. o real que interpretam. eu prefiro a ficção, filha da verdade suprimida com o real em potencial. mentira travestida. ou mais ou menos isso. 

o irmão da sônia braga

chegou como quem não quer nada e parou ao meu lado sem olhar para mim. até que nossos olhares se cruzaram e um sorriso desajeitado apareceu, no rosto dele e no meu. um pouco depois ele encheu o meu copo de cerveja, sem me perguntar se eu queria. mas eu queria e achei a o gesto gentil. conversamos sobre a iluminação do palco. me pareceu que ele também se interessava por luzes e sombras. simples assim. daí ele me contou que fotografava. entendi tudo. capturador de instantes, ele me fisgou desde a primeira olhada (aquela desajeitada). até que acertou o enquadramento e teve habilidade no foco. me beijou sem dizer uma palavra. ele é um rapaz muito diferente. e irmão da sônia braga.   

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

tampouco entendia

quanto mais eu tentava entender, menos eu entendia. e ficava numa espécie de limbo, onde nada acontece porque não alcança. em termos espaciais mesmo. matérico. e tampouco entendia isso.  

fui para fazer volume

sentei na cadeira do meio, de uma fila vazia. assisti todo o espetáculo com vontade de mijar. a cada aplauso parecia que eu ia estourar. a concentração era tanta em não mijar que eu até esquecia o que estava aplaudindo. vez ou outra eu relaxava e começava a acreditar na estória. até que a bexiga me cutucava e eu passava a perceber (e a analisar) o roteiro. daí a vontade de mijar só aumentava. foi punk. foi foda. foi very hard. core. enfim, o que era mesmo que eu estava falando? ah, sim... acabou que eu fui só para fazer volume. no caso, o volume da bexiga - que cresceu a ponto de preencher o teatro.  

 de amarelo.  

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

barriga ronca

silêncio

fui comer

[ silêncio ]

fome circular

começa na barriga e se espalha até o pescoço e os joelhos.
quando muita, atinge os braços.

cibela

cinderela contemporânea


norte-americana.    loira, 


lisa e poderosa


alta, magra, mulher E homem.

balanço

ele voltou, ele voltou!


papai noel voltou. sinal que o final do ano chegou. período de balanços. muitas coisas acontecendo. período atordoante que acontece sempre no final do ano, todos os anos. sempre assim. papai noel volta (feito um inço) e com ele voltam o final do ano

e os balanços.    









sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

essa planta

Essa planta espontânea está concorrendo com as outras. Essa invasora é erva daninha. É inço mesmo.