quarta-feira, 30 de novembro de 2011

9mbro

Novembro foi o mês mais seco no Rio Grande do Sul nos últimos quarenta anos. Os narizes ardem como se estivessem passeando pela Av. Paulista.
 
Na terra da pele brilhosa, o ar-condicionado já fez centenas de vítimas. Mais do que nunca as plantas dependem do homem. Os passarinhos só cantam à noite. Cães e gatos parecem colados nos pisos de lajota. Cavalos e ovelhas não arredam da sombra. O leite da vaca já vem fervido. Cerveja não devolve carisma nem sorvete provoca deleite. Por causa do calor. Calor seco. (Não o conhecido bafo).



Agora São Pedro ameaça chutar o Grande Balde. Minha avó já sente reumatismo nos joelhos. 

Se for chover, que seja um toró.


[Se não chover, chovo eu!]

terça-feira, 29 de novembro de 2011

mais uma vez

Mais uma vez ele caiu em tentação. Eu já pedi, implorei, para que ele abandonasse essa perversão. Mas ele não se controla. Gana e orgulho falaram mais alto. Era noite, estava calor, todos na casa dormiam e ele estava livre para cometer o ato: assassinou o rato e abandonou o corpo no mato.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

fica difícil no calor

correr, caminhar. trabalhar, estudar. não beber cerveja, raciocinar. escrev

feliz dela

feliz dela que pode passar esta segunda-feira escaldante de pés descalços. enquanto isso, de terno e gravata, eu tento me concentrar neste trabalho árduo. no final do dia terei mais R$ 430,00 na minha conta bancária, um chulé sórdido e uma asa desgraçada. e ela nada. 

qualquer coisa nº757

Adentrou a sala como se fosse um avião, um tubarão aéreo, um gavião. Estava assustado e tinha os olhos parecidos com os teus: castanhos e curiosos. Corri atrás daquele ser avoado tentando ajudar. Foi em vão. Só atrapalhei. Ele parou ofegante e desajeitado em frente à janela fechada. Eu não sabia se abria a basculante ou se me afastava. Fiquei segundos infinitos nesse dilema, com minha presença desesperando o bicho. Foi então que veio o cachorro, pronto para abocanhá-lo. Eis que e ainda bem, meu braço, sozinho, baixou a alavanca e lhe devolveu o jardim. Era um sabiá cagão. Ele cagou até em mim. Fim.

livro de artista - instruções instantâneas

1. crer que és artista;
2. pegar o suporte-livro;
3. manejar o conteúdo;
4. criar um registro próprio ao objeto-livro;
5. apresentá-lo ao público (ou não).


Aqui não seria o lugar para organizar os pensamentos criativos desta que vos escreve. Todavia acaba sendo. Fazer o quê, se o meu HD externo é a nuvem? Ademais, nada se fixa no cérebro viscoso de quem sofre de calor. 

Perdi dois quilos de idéias nesta brincadeira.

eulicóptero

o ventilador voltou a me acompanhar. ele é a sombra que me faltava.


faz 35°C e é novembro. o flamboyant recomeçou a brotar. sombra é a palavra.

água para o palhaço

em água para elefantes tudo é tão bonito e só. bom para comer pipoca. salgada e de microondas. 

sou mais o palhaço. bom para comer pipoca doce de carrocinha. e beber água com bolinha.

la piel que habito

aquele médico é um fascínora. a violência é tão ampla que nem cabe no próprio termo. é mais. o médico-fascínora foi deus neste mundo perverso, e a criatura ficou tão bela que somos tentados a absolvê-lo. mas não. ainda somos homens, e habitar a beleza pode ser a prisão que nos aparta de nós mesmos.   

I ♥ Google

sábio, generoso, parceiro, eficiente, bem-humorado e paciente - ele amplia o espaço e alonga o tempo. com ele eu venço a distância e ganho horas. por ele posso ser preguiçosa. 

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

dona Natureza

há muito, dona Natureza preparava o golpe final de uma vingança estrategicamente elaborada. primeiro enfraqueceu o homem com a escassez: secas, queimadas e fome. depois cansou o homem com a força de seus elementos: terremotos, maremotos, tsunamis, furacões, erupções vulcânicas, avalanches, temporais, vendavais. até que, enfim, decretou a invasão: trepadeiras sufocaram prédios e ruas, nasceram árvores entre os paralelepípedos, brotaram folhagens entre os tijolos, gramíneas entupiram ralos e bueiros. então tudo rachou e virou escombro. de longe só se vê o verde.      






  
Maria Sem-Vergonha, bar do Instituto de Artes da UFRGS, 2011.

dia de arte

ela adora quando pode tirar o dia para trabalhar com arte. quando pode deixar de lado a papelada encardida e as paredes alvas do escritório. quando deve, então, ela adora mais ainda. pois sim. ela fica tão satisfeita que exagera no café e quase não come. a cabecinha dá mil voltas e as mãozinhas ficam enérgicas feito dois passarinhos. ela se perde pela casa, vagando entre pensamentos e sentimentos. esquece o que pensou antes de parar em frente à janela, distraída pelo que sentiu. ela gostaria de subir no flamboyant, agora que é novembro. ele está parecendo um desenho de tim burton. está bom para se agarrar nos galhos.


  



flamboyant, novembro de 2011.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

selecionar

selecionar é trabalhoso. escolher é custoso. voilá o que eu digo.

rebloguei o que regostei

aqui abaixo.


para ler os reblogados na íntegra, clicar no link (e não no título).



[estou selecionando textos para inseri-los num novo projeto. é interessante como parece que não fui quem plantou esses escritos. estou quase convencida de que surgiram espontâneos. eita floresta de palavras-inço!]

in_o_ & aqui_o_: a flor

in_o_ & aqui_o_: a flor: abriu a janela, deixou o sol abochornar a sala. meteu um chiclé na boca e desenhou uma flor com caneta esferográfica. pendurou o desenho na ...

in_o_ & aqui_o_: clima

in_o_ & aqui_o_: clima: toda a vez que chove a piscina do vizinho transborda. toda a vez que venta as cortinas voam derrubando os vasos. toda vez que faz sol os cac...

in_o_ & aqui_o_: casa-útero

in_o_ & aqui_o_: casa-útero: a gente gosta mesmo é de ficar em casa, quando chove e quando sempre. útero com paredes de tijolos maciços. o edredom é a placenta.

in_o_ & aqui_o_: tempo

in_o_ & aqui_o_: tempo: não adianta puxar as orelhas do tempo. ele é teimoso e valente feito um touro. o que podes é subir no lombo estreito deste monstro.

in_o_ & aqui_o_: o grito da Terra

in_o_ & aqui_o_: o grito da Terra: dizem que a Terra vai gritar. que ficaremos surdos e que tudo vai rachar. nesse dia estaremos distraídos, produzindo lixo, engarrafando água...

in_o_ & aqui_o_: é o amor que faz o homem

in_o_ & aqui_o_: é o amor que faz o homem: disse Gal. disse Alice. disse Sandra. disse Fernanda. disse Juliana. disse Carla.

todas sem pestanejar.

in_o_ & aqui_o_: caneta vic

in_o_ & aqui_o_: caneta vic: sonhou com uma caneta roxa, de ponta grossa e tinta deslizante. desenhou um diamante. ele era firme e delicado. parecia um origami.

in_o_ & aqui_o_: vou

in_o_ & aqui_o_: vou: vou encher essa porra de textos. vou povoar isso aqui de palavras. vou rechear essa tela de estórias. vou fazer transbordar essa naba. vou p...

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

a fonte Georgia

Não sei porque inventei de postar os escritos deste blog com a fonte Georgia. É cansativa de ler. Um tanto over. Trunca a leitura. Dizem que letra desenhada é sinal de vaidade. Não segui minha natureza minimal ao escolher a Georgia.  Segui minha vaidade, talvez? Enfim. Veja como a palavra Vaidade parece bem mais vaidosa em Georgia. Compara: Vaidade - Vaidade - Vaidade.

Se um dia inventarem um comando que altere a fonte em todas as postagens de uma vez só, trocarei na hora. E pela fonte Padrão: Georgia, para mim, já está parecendo um lugar. Art Noveau.   

hoje [blush]

acordei irritada com o telefone que tocava de dez em dez minutos a cerca de uma hora. na primeira chamada imaginei que fosse engano. na segunda, que fosse algum vendedor. na terceira, que fosse o vendedor de novo. na quarta, que fosse o vendedor de novo de novo. na quinta, comecei a me preocupar. na sexta, levantei da cama indignada e atendi já entendendo: era o despertador, cumprindo sua função, seu serviço, suas responsabilidades. resultado: não tive moral para jogá-lo na parede.    

Não [blush]

Não me perguntes onde fica o alegrete se estiveres com o mapa na mão.

saca? [blush adaptado]

chega um ponto na vida que se for para ser, já é. saca? é a concomitância. saca? não há futuro. saca? nem passado. saca? o presente é a única coisa verdadeira que existe. saco.

mada

madam, not yet mada m

os pêlos migram

com o passar dos anos

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

dia estranho

durmo ininterruptamente por mais de doze horas. acordo confusa. parece que a bagunça do tempo desorganiza o espaço. caminho pela casa. está tudo fora do lugar. a geladeira está cheia de restos. bebo meio litro de suco de maçã. paro em frente à janela. observo a rua. a luz está boa para fotografar. as flores brancas se abriram. as formigas cortadeiras desapareceram. a trepadeira está abraçando o poste de luz. a caixa de correio está vazia. as contas estão em dia. que estranho.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

das quatro

quatro amigas criaram um blog para escrever trechos de filosofanças conversadas, auto-ajudas compartilháveis, quase-ficções e palavras ao vento. fizeram um email, criaram o blog e esqueceram a senha - do email e do blog. coisa linda! das quatro restou só um neurônio.

Haham

- Como você explica toda essa repercussão?
- Eu não explico porque não tem explicação. As coisas aconteceram.
- Como assim?
- Um belo dia tornou-se perceptível que as pessoas me ouviam. Desde o início.
- Haham. [silêncio]. Não peguei. Dá pra repetir?
- Haham.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

ö

não há ressaca, não há gravidez, não há empanturramento, não há passeio de barco. só há a náusea.

nevrótica

Neurótica e com os nervos à flor da pele, Jasinta chegou na recepção e pronunciou: "eu quero um quarto bem escuro, com água de côco no frigobar e lençóis de algodão". 

Assim foi, e deitou-se na escuridão macia sentindo o gosto do côco verde se espalhar pelo corpo até chegar ao dedão do pé.