segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

mulheres de A a Z

como publicar esses escritos? feitos ao longo dos meus 36 anos, formam um conjunto: o alfabeto de mulheres e suas pequenas histórias. historietas. comecinhos. finzinhos. tudo bem resumidinho. o máximo que consegui. o mínimo de palavras. letras suficientes para dar existência a essas mulheres. 

então tá. elas precisam sair do armário. ou da pastinha amarela.

e sairão em ordem alfabética. persupuesto. mas só amanhã.

A pedra do meu caminho

No meio do caminho não tinha uma pedra, tem
tem uma pedra no meio do caminho
tem uma pedra
no meio do caminho tem uma pedra
ainda tem.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão míopes
na vida de minha cabeça hesitante.

Nunca me esquecerei que no meio do caminho
teve uma pedra
teve uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho teve uma pedra
que apelidei de dúvida,
mas que era eu.

                                                                    [Laboratório de Textos com Elida Tessler]

Prezadíssimos curiosos,

Pra chegar até aqui eu fiz uma longa e boa jornada. Passei por alguns lugares que me acolheram, e eu os acolhi. Outros nem tanto. Mas tudo o que tenho e sou eu devo a eles, é por causa deles.
Somos feitos de lugares e jornadas. Somos feitos de paradas também. Feitos, criados e recriados. Reciclados e inventados também.
Os caminhos que percorremos seguem com a gente. No final da linha seremos todos um grande mapa.

                                                                      [Laboratório de Textos com Elida Tessler] 

Eu, Dulce Jane e Ana Cristina

Tentei me conectar à internet, mas não deu. Me restou o Word. Escrever. Até agora nenhuma idéia, apenas a espera do sabe-se lá o quê. É um dia cinza, no aparelho toca Nina Simone e já bebi mais de três cafés. Estou lendo O Retrato de Doryan Gray. Isto aqui é apenas uma pausa. Esse livro requer pausas. Não sei por que lembrei da seguinte frase do Wilde: “Por traz de toda grande beleza repousa algo de trágico”, que gostei e anotei enquanto lembrava a do Francis Bacon: “Não há beleza excepcional que não tenha alguma estranheza nas proporções”. A beleza e o trágico. A beleza e o estranho. O trágico é estranho. O esquisito encanta. A tristeza é senhora. Tudo fecha.

Hoje aceito minhas estranhezas, e minha veia trágica já não me incomoda. São minha segunda-pele. Não se separam de mim e quase não se reparam também. “Personalidade melancólica”, já me disseram. Seja lá o que isso for, eu concordei. Não gosto de falar de mim. Gosto de escrever sobre mim. Porque tantos mins aparecem nesses escritos que quando vejo não sou mais eu. Invento um eu. Brinco de não ser.

Nunca sou completamente eu quando escrevo. Às vezes disponho as palavras na tela do computador só porque as acho bonitas. Nem sempre a frase fica boa. E só. 

Escrevo com a cabeça daquele mim que escreve. Personagem e narrador. Escritor. Escrevedor.

Não encontro nada para contar. Qualquer coisa. Nada. Só remar e remar. Nadar. Realmente é uma pena que eu não tenha conseguido me conectar, mas já lamentei uma vez. Rema-rema. Barco. Bote. Jangada. Adoro jangadas.

[Pausa]. Na mexida das águas se desenha uma estória:

O Retrato de Dulce Jane (por Dulce Jane)


Hoje é minha primeira noite sem Ele. Estou perdida. Não sei o que fazer. Dúvida. Quem sabe um café. Bem forte e com pouco açúcar. Depois dessa xícara tudo ficará mais claro.

Estar solteira me emociona. Já senti isso antes. Eu lembro. 

Sairei para dançar. A mente agradece.

Primeiro passo: uma música animada. Agora. Aqui mesmo. No apartamento de janelas enormes. Tirar do armário todos os vestidos pretos, as botas de salto e experimentar. Fazer uma maquiagem que disfarce as olheiras. Vou me corrigir. Photoshop material.

Sou livre. Nem tão leve ainda. Mas solta, avulsa. Peça única no balaio. Estou eufórica! Adeus corpo inerte na trama, adeus dedicação a coisas que não me dizem respeito. De agora em diante só tenho a mim como objeto de meus cuidados. E começarei os trabalhos me divertindo.

Segundo passo: ligar para um amigo homem, para que as chances de falar em separação diminuam - quero alguém que não fale de política, arte, filosofia, cinema e separação. O que sobra? Música. Sim, sempre sobra a música. 

Hoje me serve alguém com muita testosterona. Que beba bastante. Que fume. Que seja um tanto insensível. Bastante prático. Que fale sobre música. E muito. Hoje só quero ser ouvidos. Quero ver pelos olhos de outra pessoa. Quero realmente sair de mim.

[Pausa]. Só que s empre acabo saindo pela porta que está aberta:

Farei escrevendo.

Começo por uma carta dirigida ao famoso homem que saiu para comprar cigarros e nunca mais voltou. Quem escreve é Ana Cristina, a protagonista. Ela é muito meiga, bem diferente de mim. [Sweet Jane dos pampas]. 

Está tudo tão bege desde que você se foi. Sinto falta das nossas tardes de sábado junto às nossas plantas, habitantes de vasos vagabundos. Vasos de lata de tinta. Lata de azeite. Garrafas pet. Sinto falta dos nossos domingos sem tédio, assistindo TV. Sinto falta da tua barba por fazer. Do teu cheiro sem banho. Dos teus chinelos rotos emoldurando tuas canelas finas. Fui eu quem te deu. Faz tanto tempo. Estão rotos.

Não consigo te excluir dos meus planos, te arrancar dos meus sonhos. Te imagino sozinho no apartamento. A louça suja na pia. Tua gaveta de meias vazia. Todas sujas. Tudo sujo. E nossas plantas murchando. Que dor! “É necessário dar espaço para a dor”, me aconselhou Margaritte Duras.

[Pausa]. A porta aberta me levou de volta a mim.

É tudo estória e já bebi cinco cafés.
FINS
                                                                                                                      [novembro de 2005]

Inverno

Os sentimentos são recíprocos. Um dia ele disse que pensava em mim quando ouvia Inverno na voz de Adriana Calcanhoto. O curioso é que nunca ouvimos essa música juntos. Apenas um dia cantamos juntos. Era inverno. Foi um dia apenas. E bastou.

Hoje ele mora longe e o caminho não é deserto. É superlotado. Cheio de gente, desvios e pouca sinalização. Rio de Janeiro. Quase não nos falamos. Às vezes ele liga. Sempre com boas notícias. Sempre depois da meia noite. Às vezes a cobrar. Mas não me importo. É uma alegria abstrair os chiados e me concentrar naquela voz elástica. Escorregadia. Suas palavras vão se desmanchando ao chegar no final da frase. Voz rarefeita.

Gosto de acompanhar o trajeto de suas idéias. Caminhos tortos, estreitos e escuros. Gosto de assistir à expansão de sua pessoa. Ele está crescendo. A cada dia está maior.  E vai patrolando esses caminhos. Abrindo clareiras.

Hoje é segunda-feira. São cinco da tarde e já está anoitecendo. Porto Alegre é assim. Nada divertido em Maio. É inverno e está nublado.

o imprevisto da fórmula

carla amaral fernando fortes rita maria canina pessoas e cães num dia de chuva respirando o ar úmido felizes porque vai refrescar uma poesia diferente feita de palavras renitentes que se combinam contando a pressa em digitar vale a pena salvar tantas letrinhas inusitadas sementinhas de idéias atrasadas no agora que já é passado no momento abandonado estudando informática pro concurso eu e a barra de ferramentas ligadas por frases que brotam do entre mim e o quase nada onde fica o meu interesse que só hoje sei não seria diferente por mais que eu tente

o dia continua perseguindo o entardecer e eu dedilhando os botões deste teclado frio e mudo do qual tento arrancar um texto que diga alguma coisa algum sentido nesta concentração perdida formada por palavras que quero deletar e não consigo porque antes de clicar o pensamento reinicia tal qual computador levando pra tela da mente imagens das formas reveladoras do vazio das horas tortas da inconsistência do meu software confuso ambiente de bagunça nos escaninhos do tempo pesadelo digital disforme com baixa resolução máscara de sentimentos reais de quem é matéria e constata o óbvio encontrando a saída e desligando da tomada os pensamentos neste outubro de 2004

>>><<>>>//>>><<<//>>>>>>> !Fim imprevisto da fórmula

domingo, 30 de janeiro de 2011

abertura

começo hoje esse blog, por tanto tempo adiado. cansada de arrancar inços no jardim, fiz uma pausa em frente ao computador. e eis que me vi cadastrando essa página, batizando esse espaço, pegando esse lugar pra mim. em pleno domingo de sol.