sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

a arte de qualquer um

Para o americano Joseph Kosuth, o alemão Joseph Beuys e o brasileiro Nelson Leirner, qualquer coisa pode ser arte e qualquer um pode ser artista. Será?  De fato a arte é como qualquer outro campo de trabalho, exige estudo teórico e/ou técnico, muito suor e algumas lágrimas. Pelo menos para a maioria dos artistas. E de fato hoje não existem linguagens puras, está tudo misturado. As obras são mestiças, híbridas. Um artista contemporâneo, pelo menos no início de sua trajetória, experimenta as mais diversas linguagens de que hoje dispomos. Muitos passam a vida toda transitando entre elas. Uma pintura pode não ser arte. Uma escultura pode não arte. Arte pode ser um guarda-chuva igualzinho ao seu. Sim, depois de Duchamp, qualquer objeto tem potencial para tornar-se artístico. A arte contemporânea já nos recebe assim. Mas paremos para pensar.

O que confere status artístico a um objeto ainda é a mão (ou a mente) daquele que o produziu ou escolheu e recontextualizou. O vaso sanitário do meu banheiro não é arte. O chão de ladrilhos (lindo!) da minha casa não é arte. A minha enceradeira vermelha, que não funciona e tem função meramente decorativa, também não. Porque estão descontextualizados. Porque nenhum artista, curador ou crítico sustentou que essas coisas são arte. Não houve neles ou sobre eles algum trabalho de ordem artística. Eles existem por suas funções utilitárias e/ou decorativas. E ponto final.

Mas se alguém qualquer, que se dissesse artista, e que de fato resolvesse trabalhar esses objetos, seja material ou teoricamente, tendo conscientemente por fim uma produção artística, esse alguém estaria sendo artista. Nem que fosse por quinze minutos. E os objetos trabalhados, desprovidos de sua função original e envoltos numa nova concepção, cuja razão de ser primeira fosse a Arte, se tornariam arte. Para mim, nesse caso, a condição de objeto artístico do vaso sanitário, do chão de ladrilhos e da enceradeira vermelha estaria garantida. Enquanto durasse a existência daquele artista. E enquanto durasse a poiética ou o animus artístico da sua produção. Por quinze minutos apenas, que fosse.                  

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