terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Beatriz

Ao acordar, Beatriz sente aquele desânimo habitual. É feriado e ela está de ressaca. Sim, mais uma vez Beatriz passou dos limites: enfiou o pé na jaca, chutou o balde e o pau da barraca. Ao mesmo tempo. Às vésperas de um dia inútil.

Ainda está deitada na cama. Não lembra direito a ordem dos fatos, a cronologia das cenas e tampouco o cenário ou as falas. Olhando para o teto mofado, toma uma sábia decisão: passará o dia ocupando-se de sua ressaca.

Levanta da cama e abre a janela, fingindo para o sol que está bem disposta. Joga água no rosto para tirar a maquiagem. Maldito rímel à prova d’água! Mas antes de chegar aos olhos a água é diretamente engolida. E Beatriz se permite. Bebe água da torneira e fica mais alguns minutos maquiada, com cara de panda. Ou de puta velha. Suas células estão sendo corroídas por radicais livres, mas ela se permite. Seu organismo é uma colônia de bactérias, mas ela se permite. Seu corpo agora é uma caixa d’água, mas ela se permite. Sede é assim: somos capazes de morrer por um copo d’água.

Ocupada de sua ressaca, Beatriz passará o resto do dia sem beber coca-cola.

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