sábado, 5 de fevereiro de 2011

carta para ninguém [Ella]


Não tenho mais aquele sono excessivo. Acho que é a idade. Dizem que os velhos dormem menos. Quando adolescente eu costumava dormir mais de doze horas por noite e ainda dormia à tarde. Meu recorde foi dezesseis horas seguidas com mais três horas de sono num espaço de vinte e quatro horas. Mas eu estava de ressaca. Pois então. Hoje durmo ainda menos quando faço uma noitada. Sinto muita sede. E não sonho. Os velhos dormem menos. Nei Lisboa uma vez disse que se lembra que está ficando velho quando a ressaca custa mais tempo para passar. Eu completo essa idéia dizendo que lembro que estou ficando velha quando acordo cedo. Mesmo de ressaca. E com muita preguiça.

Tomo um gole de café, e nada. Bebo 350ml de coca-cola, e nada. Fumo um cigarro, e nada. Continuo sem pique. Decido escrever e cá estou, escrevendo bobagens. Pobre computador, meu fiel confessionário, meu pontual terapeuta.

Adotei outro gato. Dei-lhe o nome de Bó. Para combinar com Be, o outro gato. Adoro combinar nomes. Às vezes fico pensando qual nome daria a um filho, um nome que combinasse com o meu e o do pai dele. Nas noites de insônia essa questão sempre me vem à cabeça. Fico horas fazendo uma pesquisa mental. Quando viajo de carro, na carona, também. Benvindo detesta quando insisto nessa especulação. Que nome dar ao nosso filho? Ele diz que quando esse filho existir a gente pensa, até porque certamente mudaríamos de idéia até lá. Não interessa, quero me prevenir! Como se de repente um filho surgisse, sem os nove meses de gestação. Prevenção à parte, combinar nomes não deixa de ser um exercício mental interessante.

Gosto muito dos nomes começados com “b”. A letra “p” também me agrada. Penso na posição dos nomes na chamada. Se “b” for uma pessoa tímida talvez prefira ficar mais para o final. Imagino como deve sofrer um Adalberto! Sempre o número um. Na chamada, na fila, na lista. O primeiro a se expor. Ou essa pessoa aprenderá a ser corajosa, forte e segura ou estará fadada ao sofrimento. Conheço dois Adalbertos. E os dois são fortes, seguros e corajosos. Interessante. Vai ver o desfio de abrir a porteira inevitavelmente leva à superação. Timidez não pode durar a vida toda.

Preciso de um ventilador. Preciso de ar. Preciso de um banho. Preciso dormir. Preciso de dinheiro. Preciso de dinheiro para comprar um ventilador.

Senão fica ainda mais difícil dormir.

Todos os velhos deveriam ter um ventilador.

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