sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

a arte dos outros

Para Nam June Paik, “arte é pura fraude”, “você só precisa fazer algo que ninguém tenha feito antes”. Num primeiro momento, concordei. Nesse breve momento de cumplicidade e revolta, achei que ele estivesse coberto de razão. Mas não. Logo discordei. A verdadeira arte, ou, mais realisticamente falando, a boa arte acontece mesmo que já tenham feito algo muito parecido. E também a arte não acontece só por ser a obra absolutamente original. Desde o fim da Arte Moderna, a originalidade não é mais um valor, um requisito, um pressuposto da Arte com ‘a’ maiúsculo.

Pode ser que na década de setenta, quando o artista proferiu a famosa frase e quando se “estruturava” o que hoje é conhecido por arte contemporânea, para se ter um reconhecimento no campo das artes bastasse fazer o inédito, materializar o inusitado, criar o diferente. Mas hoje não.

Hoje nós artistas temos muito claro que nada se cria de forma autônoma, que nenhuma obra é  auto-suficiente (historicamente falando) e que nada surge incólume de nossas mentes “geniais”. Lemos, escrevemos, estudamos, fuçamos na internet, freqüentamos exposições, experimentamos a vida. Apreciamos, criticamos, rejeitamos e escolhemos, do nosso entorno, o material para nossa produção. Conscientemente. Sem pudores de estar sendo pouco original, plagiando obras ou copiando idéias. Hoje essa “exploração” faz parte do processo de criação de forma muito natural. Eu diria até por uma questão de sobrevivência da própria arte, já que nada, nadinha nessa vida, nos parece totalmente novo, puro ou impossível. As referências e influências são nossas parceiras na criação da obra. Tanto que os documentos de processo muitas vezes constituem o próprio objeto artístico. Mesmo quando neles consta algo de outrem. Mesmo quando o trabalho não é uma releitura. Mesmo quando ele se propõe a ser único.    

Por isso nós artistas somos tão curiosos. Porque precisamos encontrar no universo que nos circunda o material para nossa criação. Quanto maior o entorno e mais profundo o seu conhecimento, mais fértil será a mente daquele que cria. Quanto mais absorver do que os outros já tenham feito, provavelmente melhor será o artista. E maior a sua arte.      

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