domingo, 6 de fevereiro de 2011

Ella se casa

Cansada de carregar sacolas e necessaires, Ella pediu Benvindo em casamento. Ele não vibrou como as mocinhas dos filmes, mas também não pestanejou. Topou na hora.

Foram morar num apartamento alugado. De fundos. Sem luz mas com muito espaço. Tinha até um patiozinho para criar plantas. E quem sabe montar um jardim.

Era tudo flores. Ella aprendeu a fazer feijão. Benvindo aprendeu a consertar o chuveiro elétrico. Ambos aprenderam a beber menos.

Nas manhãs de domingo passeavam no parque, que ficava bem pertinho, quase em frente ao apartamento de esquadrias cor de abóbora.

Naquele apartamento estranho, escuro e grande viviam como se todos os dias fosse um domingo de sol. Isso nos primeiros meses, quando a vontade de estar junto era o sentimento predominante, o impulso, o coração daquele casamento. 

Adotaram um gato. Amarelo. Seu nome ficou Be. Uma sílaba só. Não entendo como se pode chamar um bicho usando apenas uma sílaba. Enfim.

Be passava o dia sozinho, enquanto seus donos trabalhavam.  Dormia quase todo o tempo. Andava sobre os móveis. Se aninhava nas almofadas. Fazia malabarismos tentando pegar os móbiles de origami que sua dona produzia. Raramente andava sobre os muros, raramente explorava o universo daquela vizinhança. Porque Ella traumatizou o gato, tinha medo que ele sumisse, e cada vez que o bicho trepava no muro ela o mandava descer. Pobre gato. Mas, resignado e faceiro, ele passeava no patiozinho, que já estava quase um jardim. Se roçava nas plantas de mato, uns capins brabos que Ella plantou em floreiras vagabundas. Be estava feliz. Assim como seus donos.    

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