Tudo começou quando Érica leu a seguinte manchete: “Sua lingerie diz quem você é”, numa dessas revistas femininas que falam basicamente de beleza, sexo e consumo. Estava na ante-sala da terapia, que correu normalmente, como se não existissem essas revistas, como se a vida de uma mulher de trinta anos, em pleno século XXI, fosse tão profunda quanto um romance de Clarice Lispector.
Chegando em casa, Érica abriu sua gaveta de calcinhas e quase não acreditou que pudesse ser aquela mulher que se desenhava em cores pastéis, desbotadas e encardidas. Sentiu-se gasta, como se o tempo a tivesse usado em seu próprio e único favor. O que ela havia ganhado com isso senão o desgaste normal das cores e a flacidez das carnes? Rugas. Sim, ela estava começando a ter rugas. Cabelo branco já tinha há muito tempo.
Então, hoje, Érica vai às compras. E amanhã irá à dermatologista.
[este texto foi escrito no século passado (!), alterei para"século XXI"]
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