sexta-feira, 31 de maio de 2013

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in_o_ & aqui_o_ ◄ clique pra voltar: vejo [I]: No teu jardim de margaridas, vejo orquídeas muito bonitas.

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a rua estava deserta e silenciosa. dava pra ouvir o apito do trem. o velho caminhava na calçada com uma tesoura no bolso do paletó. fatiota xadrez. parava em frente aos muros das casas - muros baixos de interior. olhava ao redor e limpava o suor da testa com um lenço de seda, fúcsia. empunhava a tesoura, num suspiro de pesar, e cortava flores de árvores e arbustos. montava um buquê. pra dar pra velha. 

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in_o_ & aqui_o_ ◄ clique pra voltar: quando dei por mim: eu rolava na grama. mantinha os olhos fechados e a boca aberta para morder o capim. nadei na terra. esfreguei o nariz no sereno, verde-branc...



eu rolava na grama. mantinha os olhos fechados e a boca aberta para morder o capim. nadei na terra. esfreguei o nariz no sereno, verde-branco orvalhado. removi pedras buscando o cheiro. alcancei raízes firmes e cavei. mastiguei minerais. sorvi água morna e rolei um pouco mais. umedeci. o calor dissipava. meu coração batia na mesma proporção, desacelerando. lati. eu era um cão.

terça-feira, 21 de maio de 2013

de volta às (artes) visuais

Só fará sentido se for quadrado. Falta preto. Deixa escorrer. Tem que ficar mais para a esquerda. Precisa secar. O azul saturou. Não gostei do amarelo. Achei o ponto. Mais um pincel perdido. Queria um tanque de alumínio. Agora é só esperar. Esqueci o café na estante de livros. Faz dois dias que não uso óculos. Vou tirar as arestas. Está quase. Um alongamento vem bem. Deve ter no estojo. Que bom que vingou. Não vi anoitecer. 



sábado, 18 de maio de 2013

nossa senhora

Nossa Senhora do Alvejante Sem Cloro, 

dai-me forças para carregar a tulha;

dai-me ânimo para vencer a pilha;

dai-me um dia de sol.


sexta-feira, 17 de maio de 2013

lado cão


Gosto de andar em bando e trabalho muito bem em equipe. Minha visão é ótima mesmo na penumbra. Sou avessa à luz forte. Meu olfato não foi afetado pelo cigarro, decifro cheiros a metros de distância. Sou exigente com perfumes. Escolho o suco pelo cheiro (e a cor). Meu paladar é rudimentar, aceito qualquer coisa que não respire. Sou louca por carne gorda e tenho restrições a folhas. Posso passar um dia inteiro dormindo ou um dia inteiro correndo. Corro pra rua quando ouço barulhos, não tenho grandes medos. Mas, desde que passei a morar sozinha numa casa, tenho o hábito de pendurar sininhos ou quizos nas portas e janelas. Para que eu as ouça quando são abertas. Meu lado cão é imperioso.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

meus abrigo

Meus abrigo furado que todo mundo odeia são os mesmos 
abrigos de plush que me abrigam nas horas vazias e cheias. 




chafariz

naif feito um chafariz:




feliz feito um chafariz!


.
nariz feito um chafariz..


quinta-feira, 9 de maio de 2013

2001:

2001:Uma odisséia na gaveta 



dos papéis velhos.



calendário (2001)

segunda chorei por ti.
terça fiquei mais calma.
quarta torci por mim. 
quinta reguei minha alma.
sexta esqueci de tudo.
sábado me diverti.
domingo caguei pro mundo.

segunda senti raiva.
terça me revoltei.
quarta tive idéias.
quinta compartilhei.
sexta fiz muitas coisas.
sábado comemorei.
domingo dormi cansada.

e no feriado despertei.

terça vivi.
quarta voei.
quinta sorri.
sexta amei.
sábado, nada.
domingo não sei.

um homem que não eras tu (2001)

Sonhei com um homem que não eras tu.
Senti por ele um desejo descontrolado.
Bem quando ele ficou pelado
acordei ao teu lado e tu estavas nu.

Por ter te traído, fiz as malas.
Enquando dormias, parti.

Antes de bater a porta,
mirei na foto nossas caras
sorrindo por tantas horas.

Qual das duas era eu?
(a que sorri ou a que vai embora?) 

Em nenhuma delas me reconheci.



meta (I)

Meta: escrever algo estimulante pra essa gente que não têm preço.

"Antes das férias se ganha mais um terço".

amor V (2001)

amor violento
amor virou lento
amor virulento

amor que nem tento

quant (2001)

Quanta bobagem cabe num copo de cerveja?
Quanta certeza há na percentagem?

Quanto desejo lateja em quem beija?
Quanto se aprende em cada viagem? 

sina (2001)

Ônibus lotado,
corpo cansado e um balanço que nina. 

Chega atrasado, sempre atrasado.

Eis sua sina.

fundo do poço (2001)

No fundo do poço
tem uma mola,
que te impulsiona
e te joga pra fora.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

O Encontro



Essa mulher existe inobstante somente eu a veja. Quando aparece, ilumina o caminho. E o entorno deixa de ser aquele. Tudo abranda, dissatura. Uma espécie de luz a permeia – ela parece estar prestes a se desmanchar no ar. Mas não. Ela é feita de carne e tempo, sua matéria é igual a minha. Ela é só uma mulher. Mas sim (e tem gente que duvida).

Velha. Idade indefinível. Mãos brancas com veias salientes, azuis. Mãos que já escreveram muito e que talvez por isso exibam veias assim, dilatadas, desenvolvidas, envolventes. Se romper uma dessas mangueiras vitais, jorrará um caldo azul royal que pintará o mundo. Para sempre. 

Na primeira vez em que a vi, ela estava sentada num café muito charmoso na Rua Morom. Vestia preto e anotava coisas num pequeno bloco estampado de flores. Tons berrantes que não combinavam com ela. Acho que ganhou de presente, o bloco. 

Sentei à sua frente, em outra mesa. Não pude deixar de notar aquela figura de tez extraordinariamente pálida, rugas sinuosas que pareciam desenhadas à nanquim, cabelos grisalhos presos numa trança em coque, corpo magro porém vigoroso. Usava óculos e batom claro. Fumava. 

Minha vontade de fumar só não foi mais forte que a vontade de falar com ela. Sem cerimônia nem licença, pedi-lhe um cigarro. Ela me alcançou um maço de Charm e um Zippo dourado. Luxo. 

Logo que dei a primeira tragada, em pé, ela me convidou para sentar à sua mesa. Disse isso fechando ternamente o bloco estampado. Aceitei o convite e me instalei tão perto dela que dava para sentir o seu perfume. Amadeirado e discreto. 

A princípio, a mudez da anfitriã me perturbou um pouco - nenhuma palavra para quebrar silêncio, nenhum gesto para preencher vazio. Acatei o silêncio. Cerca de dois minutos nisso, ela começou a falar. Disse ser escritora, que publicava livros desde 68, todos sob um pseudônimo. Contou que nasceu no Chile, de pai austríaco e mãe polonesa, ambos professores, e que veio para o Brasil ainda bebê, cresceu no Rio de Janeiro, estudou em Porto Alegre e mudou-se para cá, onde casou e viuvou. Contou que durante a ditadura militar teve de ocultar a verdadeira identidade, para sobreviver em todos os sentidos - escrever e respirar -, e que mesmo com a Abertura manteve o pseudônimo porque seu nome de registro havia morrido de exaustão. Depois, ela apenas quis saber de mim. 

Falei feito rádio, enquanto ela me ouvia, plácida e interessada. Sem me interromper, empática como uma mãe, teceu breves e estranhos comentários:

- Tu desenhas enquanto falas. Isso é coisa de escritor. É inócuo resistir – comentou tragando o primeiro cigarro. Admirei sua convicção.
- Tu pareces uma menina. Talvez a vida ainda não tenha te dado pedras bastantes para te esfolar. Quem sabe és tu que terás de buscar as pedras – comentou apagando o terceiro cigarro. Percebi sua perspicácia.
 - Tu te expressas muito bem para uma pessoa com tantas hesitações. Forma e conteúdo têm de pelear para encontrar o passo adiante. Isso é formidável. Demasiadamente humano. Sedutor – comentou acendendo o quinto cigarro. Desejei ser sua amiga.
- Tu deves errar mais. Errar é profícuo. E é o único jeito de existir. Verdadeiramente – comentou puxando do maço o último cigarro. Senti que nos tornamos amigas.

Saí do café só depois de vê-la ir embora. Precisei de quase uma hora para processar o encontro e refazer meu trajeto. Desisti de ir ao banco. Deixei o cinema para outro dia. Não passei na padaria. Fui direto para o sofá de casa, ler meus pensamentos, que estouravam no teto e escorriam pelas paredes, almofadas, meu corpo estirado entre almofadas e os livros da estante. Tudo boiava. Mareei. Os polos foram mexidos. O magnetismo dessa mulher que existe, inobstante somente eu a veja, é implacável (e tem gente que duvida).