sábado, 5 de fevereiro de 2011

carta para um dia cinza [Ella]

Acordei tarde. E não tenho nada de urgente para fazer. Está nublado. Tem um pouco de vento. Adoro vento. Mas abriria mão do vento por uma chuva. Gostaria que estivesse chovendo. Seria o álibi perfeito para ficar em casa sem culpa.

Atualmente tenho pouquíssimos compromissos e nenhum deles é inadiável. Não tenho me comprometido com nada que me exija demais. Sinto culpa por isso. Estou numa fase da vida em que não há tempo a perder. Aí penso: o que me falta? Vontade. É vontade que me falta porque necessidade eu tenho. Ando tão dura que não tenho dinheiro nem para pegar um táxi, nem para tomar um chope na esquina. Minhas contas estão todas atrasadas e temo que nessa semana cortem minha luz. Apesar de toda essa penúria, continuo sem vontade de me mexer.

Trabalhar, estudar, encontrar amigos, trocar a areia do gato, caminhar no parque, fazer sexo, ir ao banco, cozinhar: tudo isso me cansa só de pensar.

Por isso permaneço em casa, olhando o dia pela janela.

Como se eu estivesse num trem, vendo a paisagem correr. Sem desembarcar em lugar nenhum. O trem é o meu apartamento, a paisagem é a vida acontecendo.

Sei que preciso desembarcar em algum lugar, em alguma estação, em alguma situação. Pôr os pés no chão. Mas hoje não.

                                                                                          
                                                                                           Ass. Ella 

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