segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Por que Pablo não dança mais?

Era domingo e Carmen ainda dormia. Uma sensação estranha tomava conta do bailarino deitado ao seu lado. Ele era Pablo, o marido. A vida toda ele abriu mão de coisas importantes para dançar. Para ele a dança sempre foi mais importante que essas outras coisas importantes. Mas nessa manhã seu corpo estava inerte. O coração, acelerado. Pensava no quanto estava ansioso. Preocupado. Pânico. Falta de ar. E nada de se mexer. Entendeu que precisava gritar. Carmem acordaria e resolveria tudo. Mas Pablo estava mudo. Sentia que estava prestes a implodir. Como um prédio abandonado. Em silêncio. Em câmera lenta.

Sabia que a partir dalí não dançaria mais.  Era ateu e não fez promessa. Sabia que a partir dalí não dançaria. Era jovem demais para morrer e velho demais para passar os dias deitado. Sabia que a partir dalí não. Era um homem feliz, mas não alegre. Sabia que a partir dalí. Era o dono daquela cama macia e não sentiria saudades disso. Sabia que a partir. Era amado por Carmem e gostaria que isso não fosse verdade. Sabia que. Era uma pessoa à beira da morte e aceitou isso sem dor. Sabia. Era nuvem e partiu numa pirueta.
      

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