terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Marta

Marta não fuma, não bebe, não mente, não joga, não come carne e quase não pensa em sexo. Mas lê demais. Desde que aprendeu a juntar as letras, antes mesmo de conhecer todas as consoantes, adquiriu o vício em formar palavras. Qualquer letra que apareça na sua frente é logo capturada.

Marta não resiste outdoors nem manchetes em bancas de revista. Mesmo quando está sem tempo. Mesmo quando está chovendo. Mesmo quando está sem tempo e chovendo. Mesmo quando está sem guarda-chuva.

Ao invés de contar carneirinhos para pegar no sono, Marta conta sílabas de palavras aleatórias que lhe vem à mente. Quando dorme, sonha que está lendo na tela do computador. Acorda sempre muito cedo porque só consegue sair de casa depois de ler o jornal de cabo a rabo. O ônibus ela quase perde, porque fica lendo os letreiros luminosos que indicam os destinos.

Marta lê bulas de remédio como quem lê uma crônica do Veríssimo no jornal de domingo. E prefere assistir filmes com legenda, mesmo quando o filme é nacional. Marta diz-se “viciada em leitura”, vê seu hábito como uma patologia. Obsessão compulsiva, talvez. Mas não vai ao psiquiatra. Vai ao oftalmologista, aumentar o grau dos óculos.

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