segunda-feira, 15 de julho de 2013

hoje eu vou escrever

Hoje eu vou escrever pelo meu fugaz enjoo de ler. E pelo emocionante motivo de que vivi instantes narráveis há não mais que 12h. Sim. É isso.

Pois bem. Cheguei de viagem e a rodoviária estava lotada. Mas eu não conhecia ninguém. Aquilo me causou imensa paz. A respeitável sensação do eu-alienígena. Tudo zerado na minha vida. Pude fumar sem ser interrompida. Sentei no banco dos taxistas - nessa cidade os motoristas de táxi têm um banco de praça, do lado externo do prédio, especial para esperar os passageiros que aparecem em intervalos consideráveis. Pouca gente anda de táxi aqui. O transporte coletivo é sofrível. Todos têm carros. Município pobre. Lembrei da tarde de sábado como quem aprecia um vinho encorpado. Cabernet Sauvignon. Sábado encontrei velhos amigos velhos (sim, velhos-velhos). Vi meu pai feliz e minha mãe mais alegre que o habitual. Eu enxergava as caras deles e as dos velhos amigos velhos sorrindo pra mim no reflexo dos vidros dos táxis, e não entrava em nenhum. Estava bom ali. Aquele banco de praça fez as vezes de poltrona de cinema. Mas eu não estava totalmente em paz nem imersa na película. Ansiava que algum taxista viesse me repreender por estar ocupando um lugar alheio. Eu estava disposta a brigar, para dissipar a irritação que me acomete depois de 4h dentro de um ônibus. Mas não. Ninguém veio. E isso me irritou ainda mais. Pensei em ir para casa a pé, em dar o calote no taxista, em mentir meu endereço. Mas não também. Terminado o cigarro, acendi outro - foi o máximo que eu fiz. Depois entrei num táxi apertado. Igual àquele fusca contemporâneo eu nunca tinha visto. Tão pequeno que eu encostava os joelhos no banco da frente. Tão ereto o banco de trás que quase vomitei. Endereço correto e corrida paga, cheguei em casa. Tudo estava no lugar, dispensando placas de privacidade. Voltei a ser aquela. Abracei os cachorros como uma verdadeira madona. Enxerguei no sofá da sala o meu banco de praça. E liguei a tevê.

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