sexta-feira, 19 de agosto de 2011

supermercados

supermercados são o templo do desgosto. aqueles corredores estreitos, abarrotados de embalagens coloridas de todos os formatos, decoradas com estampas bregas, rotuladas com palavras péssimas, servem apenas para ocultar os minúsculos quadrinhos onde só quem tem bons olhos pode ler a quantidade de calorias, gorduras trans, glutamato de monossódico e corantes artificiais. uma estupidez! mas o pior são as pessoas. famílias inteiras - pai, mãe, filhos, avós, enteados, sobrinhos, netos, vizinhos - passeiam contentes nesse parque artificial de luz fluorescente. é ultrajante presenciar tanta alegria e união num lugar como esse. os olhinhos das  crianças implorando por acúcares e carboidratos é deprimente. e aqueles que comem enquanto compram parecem rolar nessa pocilga de piso deslizante.

a disputa dos carrinhos de compras são um capítulo à parte, especialmente no setor das hortaliças. a gentileza de uns é a safadeza de outros. os barbeiros pedem desculpa te olhando com sorriso de escárnio. e tu retribuis, cínico. mas continua disputando a melhor cebola com o colega ao lado. a briga pela alface mais verde, mais vistosa e mais tóxica é algo que não se pode entender. na hora de pagar a conta, suas forças daninhas já se dissiparam no templo, estão depositadas sob o altar dos congelados. e só resta cansaço. suporta-se a fila como quem espera um trem para ir pra casa, observando os colegas de jornada, os concorrentes de batalha, pensando se não esqueceu de nada no caminho. e, depois de ouvir aquele bip-bip irritante do leitor de código de barras, paga-se a conta - como quem perde a carteira no trem, sentindo pena da moça do caixa.

[é por essas e outras que só vou ao supermercado quando acaba o papel higiênico]. 

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