quinta-feira, 19 de julho de 2012

Do hábito

Tenho o perigoso hábito de dizer o contrário do que estou pensando, num tom que para mim fica claro ser o contrário do que estou pensando. Para mim.  Alguns chamam isso de ironia; outros, de neurose; outros me tiram para uma pessoa nada formidável. À propósito, minha auto-descrição no Twitter é "pessoa formidável". Porque li no dicionário que "formidável" designa o pavoroso e o extraordinário, o terrível e o excelente ao mesmo tempo. E porque tenho o tal perigoso hábito.


Tenho poucos hábitos. Não engreno em rotinas. Sou como um trem sem trilhos, desgoverno. Por muito tempo isso me desagradou. Eu queria me apropriar de hábitos como quem compra um livro, um maço de cigarros. Até que li a biografia de Montaigne e concluí que ele foi um homem "sem" hábitos, o que vejo até na sua escrita, cheia de digressões. Ao digressionar somos levados ao descarrilhamento, tentados ao desgoverno, e corremos o maravilhoso risco da contradição. Hoje eu acordei sem o ânimo encarangado de frio. E me sentei aqui. E escrevo pela manhã. E bebo café. Hoje eu abri a porta para os cachorrros. 

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