quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

pois então ele chega em casa

Pois então ele chega em casa. Cara de quem aprontou. Cabisbaixo. Coluna curva. Cifose transitória. Tatu-bola encolhido. Ele senta no sofá e suspira. Suspira fundo como há muito tempo não. Sente-se culpado? Quando parecia encher o pulmão para pronunciar uma palavra, levanta-se, mudo. Esfrega uma mão na outra, como se as estivesse lavando no ar. Água imaginária. Nervos. Crime. Ele senta na poltrona. Apóia a cabeça no encosto. Olha para o teto mofado como quem contempla uma nuvem. Suspira e suspira. Coça o nariz. Espirra. Cheira a ponta dos dedos da mão direita. Disfarça a cara de nojo. Ele olha para a janela. Olha pela janela. Sombrancelhas caídas. Mãos inquietas. Respiração irregular. Garganta embaraçada. Pigarro. Ele está calado, parece que engoliu uma pedra. Tampa de poço. Rolha de poço. Tampão. Catarro.

Sinceramente, eu preferia que ele continuasse assim. Que não dissesse nada, que guardasse para si todo o lixo que chafurda quando está longe de mim. Essa sujeira fede e pesa demais. Merda incontinente. Não sei se ele é fiel ou egoísta, só sei que daqui alguns segundos ele vai confessar: "Fumei". 

 

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