quarta-feira, 19 de outubro de 2011

ACHE O GATO

As pessoas não se conformam com o que vêem. Elas querem mais. A imagem óbvia não prente. A leitura direta da imagem não conforma. O que é óbvio e direto é descartado antes mesmo de ser olhado. Vemos, porém não olhamos o que vemos. Pois para apreender é preciso focar, e para focar é preciso parar. A ânsia pela mudança, reflexo do movimento acelerado da vida e "suas paisagens", torna a leitura direta de uma imagem quase impossível. A concentração no ponto chave não se sustenta, pois o entorno puxa e distrai. 

Experienciei isso, de forma óbvia e direta, no facebook. Por que adoramos a brincadeira-frebre do "ache o gato"? Porque com ela obtemos o deleite de ter os olhos passeando pela imagem, passeando até achar algo - no caso, o gato. E mais: saber o que procuramos dentro da imagem scaneada por nossos olhos e mente é estimulante. Isso me lembra aquelas pessoas que procuram figurações nas nuvens. Para elas uma nuvem não pode ser "apenas" uma nuvem, tem que que ser um coelho, um coração, uma ovelha, um rosto. Ai, ai...

"Conclusão": quem procura na imagem o que ela não mostra, não tem ou não é, está querendo achar o gato ou o coelho. 

Todos nós fazemos isso. O homem faz isso. De certa forma os animais fazem isso (prontoviajei#): já vi meu cachorro contemplar o mato e, de repente, enxergar algo que o fez correr ao encontro da coisa que não existia, pensando, talvez, que se tratasse de uma bola, um bicho, um monstro, um paraíso. 

Isso não é nenhuma novidade, mas para mim é sempre surpreendente perceber que o desejo do espectador está muito além do que ele vê. 



[Notinha: esse textinho nasceu de um singelo postzinho meu no facebook, cuja proposta de leitura direta (num tom até meio "dã") virou uma pegadinha. O que foi beeem mais divertido. E rico.]       



ACHE O GATO:

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