terça-feira, 18 de outubro de 2011

colecionador

a tal mulher já amava o homem que conhecera há exatos dezesseis dias. nunca tinha vivido um romance com um homem daqueles: gentil, atencioso, inteligente, generoso, bonito e viril. ele fazia com que ela se sentisse a mais importante das mulheres, ele realmente a fazia feliz. como se não bastasse tudo isso, o homem a levou ao seu apartamento - que era limpo, organizado e tinha uma decoração de extremo bom gosto. nessa noite eles dormiram de conchinha depois de um sexo com orgasmo simultâneo. mas, pela manhã, o homem saiu para comprar pão e a mulher aproveitou a deixa para vasculhar a casa. na gaveta do criado-mudo encontrou dezenas de camisinhas. no roupeiro, seis calcinhas rendadas, uma de cada tamanho. na estante da sala, escondido atrás da televisão, um porta-retrato múltiplo que portava fotos de seis mulheres lindas. desesperada, a mulher correu para o banheiro e eis que no armarinho do espelho encontrou seis batons vermelhos - cada um com um nome etiquetado: nádia, fátima, gislaine, carina, joana, maria. enlouquecida, a mulher pôs-se a chorar e chutou a tulha de roupas sujas que habitava o canto escuro do banheiro. e dela saltaram roupas femininas de todos tipos: top, mini-saia, sutiã, meia-calça, baby-look, corselet. alucinada, a mulher decidiu ir embora, mas não sem antes escrever um bilhete para aquele homem. numa caderneta que repousava em cima da mesa do telefone, escreveu "jamais me procure seu BOSTA" bem na página B, onde constava bárbara, beatriz, betânia, betina, bernardete, bruna, bia, bianca, brenda, barbarela. então, a mulher voltou para casa aos prantos, sentindo a dor incomensurável de amar um colecionador.   


mas não termina aí.

ao recobrar os sentidos, a mulher percebeu que voltara para casa sem calcinha, que perdera seu único batom vermelho-tomate e que respirava melhor sem o espartilho que lhe apertava a cintura.               

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