sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Regina e o ovo [VI]


"Eu trouxe o livro. Terminei. Mas, devido ao encontro de ontem, excluí todas as palavras ovo. Susbtituí por amor. Achei mais apropriado. E verdadeiro", disse Paulo, abraçando Regina com o sorriso.  

Era um caderno grosso, tão surrado quanto o bloco de Regina. A última página estava marcada com um blíster vazio. Aceitando o recado, Regina foi direto alí, e leu em silêncio:



Estou preso dentro do amor.
Sua casca fina é o que me abriga. 
Não desejo sair daqui
Se não for para andar na rua
Contigo.

Eu dividiria um guarda-chuva Contigo,
Eu jogaria longe o guarda-chuva para te abraçar
Na chuva.


Espio pelas rachadaruas do amor
o que eu chamo de resto.
Me acostumo com as frestas,
confundo o que está fora ou dentro.
Por pouco nada reconheço.


Mas o abrigo da casca fina,
Abraço quase inexistente, que pena!
Me faz mais que ver melhor, enxergo 
Outros diversos mundos,  
Tantos quantos são os habitantes deste planeta, 
Ondezinhos, codornas!, não me encaixo
E não choro.


Porque estou separado do resto
Que não é o amor.
Nem passarinho, nem pinto,
nem dinnossauro, nem louco,
Eu estou são e certo.

Toda a lavrada loucura
cabe dentro desse amor.
E toda sensatez também. 
Tudo. Desde que seja nosso.
Até este caderno.

Nunca se viu amor assim como o meu, 
Gigante. A ponto de estar além de si,
Descobri faz pouco,
Quase agora.

Se cheguei até aqui, 
Caio, foi pelo amor.
Meu olho já não arde,
E nada fede.




Com o chão sobre a cabeça, Regina largou o livro de Paulo e escreveu em seu bloco surrado: "Paulo nasceu". Pela primeira vez, uma frase conclusiva estampava as folhas abauladas do seu bloco de anotações.

- Tu és poeta. E eu sou a cobaia, Sr. Paulo Hawking - disse ela, antes de chorar.


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