quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

hospital

"Um óculos escuros, pelo amor de deus". Foi só o que eu disse quando acordei naquela cama de hospital.

A luz branca me cegava - detesto luz fria. Meu corpo tremia feito vara verde - nunca vi uma vara verde tremer. Sentia frio e náuseas. A enfermeira me deu um cobertor e uma bacia de inox que eu apelidei de vomitador. Mas não me deu os óculos escuros. 

Fiquei ali extasiada com aquela sensação de perdimento. Eu estava morbidamente fruindo aquele caos mental. Tentava lembrar do que eu sonhei enquanto estava anestesiada - sim, eu creio que sonhei. Mas não lembrei de nada. Lembrei sim foi da minha amiga que morreu. Chorei e chorei. Eu chorava sem saber por que, embora sabendo que eu sentia saudades dela. Não me interessava o resultado da cirurgia, eu estava cagando para o sucesso. Eu só queria saber de gozar aquele momento estranho e único, no qual eu chorava sem saber por que e  que há muito tempo não acontecia. Queria minha amiga para chorar comigo. Eu era a única que chorava naquele rescinto e estava cagando para isso também. Me perguntaram se eu sentia dor e eu respondi que não. Se me perguntassem se eu sentia prazer, teria respondido que sim.  

Então, para encurtar a história, eu fiz xixi só para obter alta do CR e ser levada para o quarto. No quarto, eu botei meus óculos escuros e fiquei um dia inteiro deitada, olhando o soro pingar. Sem dor, nem prazer.

 

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