Cada um escreve como quer, eu disse antes que ele começasse a apontar as qualidades e os defeitos da minha escrita. Daí ele me disse que adorava escrever, mas que ultimamente escrevia muito pouco porque na maioria das vezes seus textos ficavam ruins. Eu quis entender o que, para ele, seria um texto ruim. Ele disse algo como um texto sem assunto relevante, sem propósito; um texto com português hesitante, exagerado nas descrições e adjetivos; um texto muito pessoal - que não serve para nada nem para ninguém.
Cada um escreve como quer, eu repeti. Já que ele pareceu ter ignorado, apelei citando Barthes: o escritor tem um própósito que basta para justificá-lo: a gestação da forma. Com isso, seus olhos brilharam, seu corpo todo voltou-se para mim e ele disse: "de tanto chocar-se contra o leito do rio da experiência, a expressão arrendondará as suas formas, polirá suas arestas e se transformará em arte, Charles Kiefer", apagando o cigarro com mãos de escritor.
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