faz três noites que deixo acontecer. antes de ferrar no sono vou à sala fumar um último cigarro. sento na cadeirinha de praia e fico observando as formigas cortadeiras modelarem o "jardim suspenso" que acortina a janela. vejo só a silhueta. é bem escuro ali.
o corte e carregamento das folhas produz silhuetas negras impressionantes.
por instantes, extrapolo a contemplação formal e penso na logística da coisa. como em toda cooperativa, há trabalhadores caxias e outros folgados. corpos idênticos carregam pedaços de tamanhos bastante díspares, abismilhantes. muitas das formigas se ajudam. agrupam-se e afastam-se formando uma espécie de balé de pulgas na corda bamba, que são as hastes da trepadeira - pontos duplos móveis sobre a linha retorcida.
hoje, terceira noite, tenho uma leitura quase científica das imagens. entendo os contornos por mais complexos que sejam a coreografia e o ângulo de visão. do abstrato ao figurativo - tudo muito interessante e bonito. mas esse espetáculo não terá uma quarta noite (quem assistiu, assistiu; quem não, perdeu). sabotarei as cortadeiras. deixarei ao seu alcance dezenas de naquinhos tóxicos que naturalmente levarão para a toca. formigas-bomba.
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