quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Maria x João

Maria estava tensa e João estava cansado. Há duas noites ela fritava na cama sem conseguir engatar no sono. Há duas noites ele acordava de hora em hora. Ela agarrava os seus despertares com unhas afiadas, e iniciava um discurso sobre a necessidade de renegociarem o casamento - aproveitando para atacar as falhas da parte adversa e retalhar a auto-estima que esta tentava resguardar naquelas 48 horas de sindicância. Ele só queria dormir e prorrogar o contrato, mas disse "vou melhorar". Ela saciou o animus vincere, mas disse "um vaso quebrado será no máximo um vaso remendado". Foi aí que João percebeu que a única maneira de preservar sua integridade consistia em calar-se. Nada mais restava a ser perpetrado, só o silêncio. Maria sentiu uma fisgada no útero, e passou a contar carneirinhos escalpelados. João virou para o lado. Na manhã seguinte ela menstruou.

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